10/11/2014

SOS Cagarro?




Campanha SOS Cagarro: 15 de Outubro a 15 de Novembro.

Outubro de 2013 - Exercicios militares na Área Protegida do Ilhéu de Vila Franca do Campo. O ilhéu constitui uma importante zona de nidificação para aves marinhas migratórias como o cagarro (Parques Naturais dos Açores).

Novembro de 2014 - Exercicios militares na Área Protegida da Ponta do Cintrão. Esta zona é particularmente importante para a nidificação do cagarro (Parques Naturais dos Açores).

20/10/2014

Em defesa do cagarro




MANIFESTO EM DEFESA DO CAGARRO
REIVINDICAÇÕES PARA A CAMPANHA “SOS CAGARRO” 2014

Considerando as deficiências com as quais ano após ano se confrontam os voluntários da Campanha “SOS Cagarro” e que levam a uma maior queda e ferimentos das aves e a umas condições às vezes pouco dignas para o seu resgate, as associações e os cidadãos abaixo assinantes reivindicam por parte do governo regional:

1) Um compromisso para a redução efetiva da iluminação pública durante as duas semanas principais que dura a Campanha SOS Cagarro.

Mais da metade das aves que caem em terra tem por causa a exagerada iluminação pública de infraestruturas como portos de pesca, campos de futebol e estradas situadas junto ao litoral.

Nesta situação a Campanha SOS Cagarro e todo o labor dos voluntários muitas vezes não passa de um logro, limitando-se na realidade a recolher as aves que previamente são “obrigadas” a cair em terra devido à excessiva iluminação. Como consequência das quedas muitas das aves, perto de um milhar no passado ano, ficam feridas ou morrem.

É necessário seguir exemplos como o das ilhas Canárias, onde as autoridades regionais promovem ativamente a campanha “Apagón por la pardela”, através da qual municípios e entidades privadas reduzem significativamente as luzes durante a campanha de recolha de cagarros. Nos Açores, pouco ou nada disto é feito apesar de existirem ilhas declaradas Reservas da Biosfera que deveriam primar por estarem na vanguarda no respeito e defesa do ambiente.

2) A declaração do cagarro (Calonectris diomedea borealis) como Ave Regional, de especial interesse e proteção na Região Autónoma dos Açores.

Ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja proteção melhor serviria para a proteção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas.

3) A criação do “Telefone do Cagarro”, telefone único e gratuito para todas as ilhas a funcionar durante as 24 horas durante as semanas da Campanha SOS Cagarro.

O “Telefone do Cagarro” evitaria a actual multiplicidade de telefones disponíveis, todos eles pagos, e facilitaria a comunicação de quedas de aves, reencaminhando a informação para a entidade mais adequada em cada caso.

4) O inicio da construção de um Centro de Recuperação de Fauna (CRF) nas principais ilhas, com capacidade para acolher e tratar todos os cagarros feridos.

Durante a Campanha são bastantes as aves encontradas feridas e que precisam de assistência veterinária, situação até agora não tratada de forma adequada nem digna, faltando infraestruturas próprias. Os CRF poderão servir também de lugar de depósito noturno de todas as aves recolhidas durante a Campanha, que até agora são depositadas em lugares às vezes muito inapropriados até a sua libertação no dia seguinte.

Os CRF são ainda uma necessidade, durante todo o ano, para o tratamento de outras espécies de aves dos Açores e como depósito de animais apreendidos em situação ilegal, necessidade para a qual a própria GNR tem vindo a alertar repetidamente. Actualmente acontecem situações caricatas como o transporte dum milhafre ferido da Terceira até o Corvo, ilha onde nem sequer existem milhafres, por existirem ali umas pequenas instalações para a recuperação de aves.

5) A divulgação pública e a análise dos resultados da Campanha SOS Cagarro, permitindo detetar em todas as ilhas os pontos negros onde é registada em cada ano uma maior quantidade de quedas de aves e uma maior mortalidade.

Esta análise, juntamente com a informação sobre os lugares de nidificação e do sucesso reprodutivo da espécie, permitiria definir melhores estratégias e ações para as Campanhas a realizar nos anos seguintes.



Assinantes: Amigos dos Açores - Associação Ecológica, Amigos do Calhau - Associação Ecológica, CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social, e 62 subscritores individuais.


01/08/2014

Problemas ambientais resolvidos a tiro de caçadeira

A antiga Secretaria Regional dos Recursos Naturais entendeu autorizar há um mês a realização de uma “operação de correcção populacional de Laurus michahellis atlantis (Gaivota-de-patas-amarelas) com recurso a arma de fogo, nas áreas de cultura da meloa da ilha de Santa Maria” (Despacho n.º 993/2014). O objectivo é supostamente “evitar prejuízos graves na cultura da meloa e deve ser executada de forma a assegurar que os animais abatidos não sofram sofrimento desnecessário”.

Os conflitos entre os agricultores e a fauna silvestre não são certamente novos. Para os agricultores a luta é contínua e as perdas podem chegar a ser às vezes elevadas. Mas sempre foram encontradas soluções para as minimizar e as superar. Soluções estas que devem ser mais exigentes na actualidade, quando há uma tendência para adoptar um modelo de agricultura que respeite o ambiente, a fauna e os ecossistemas naturais.

Houve tempos passados em que qualquer problema era resolvido a tiro de caçadeira. Naquela altura qualquer animal silvestre que incomodava os agricultores era caçado, envenenado ou exterminado. Mas esses tempos, na sua essência tão primitivos, rudes e pacatos, parece que ainda existem algures nos Açores e resistem a abandonar os seus últimos redutos, bem patentes na mentalidade dos governantes açorianos e do governo regional.

O abate de gaivotas, já autorizado também em 2012, não parece passar duma falsa solução. Muito simplista e pouco eficaz, não chega a atacar as verdadeiras causas do problema, limitando-se porventura a disfarçá-las. Como é bem sabido, a presença de gaivotas nos meios urbanos e rurais, às vezes muito longe do habitat marinho próprio da espécie, é devida quase sempre à existência de lixeiras ou aterros sanitários mal geridos onde as gaivotas encontram alimento em quantidades importantes.

No caso da lha de Santa Maria, e também noutras ilhas açorianas, é bastante evidente a existência destas lixeiras e de uma inadequada gestão dos resíduos sólidos urbanos, propiciando a presença e o aumento do número de gaivotas terra adentro.

A matança de gaivotas parece também uma solução pouco idónea para uma ilha e um arquipélago que pretendem apostar no desenvolvimento dum turismo de natureza.

Finalmente, não deixa de ser ilusório falar de “correcção populacional” em relação ao abate de algumas desgraçadas gaivotas. Tanto como ridículo é pensar que uma espécie ou população silvestre precisa de ser “corrigida”. Ou ainda pensar que se pode matar desnecessariamente, a tiro de caçadeira, um animal sem infringir nele “sofrimento desnecessário”.